As fanfics e a Literatura Pop atual

As fanfics e a Literatura Pop atual

Texto por Fabrício Fonseca para o Cadê LGBT



O ano era 2013 e pela primeira vez na minha vida eu ouvia falar em Fanfiction, ou seja, uma história de fã. 

Foi lá na época em que eu criei uma conta no Nyah! Fanfiction para publicar minha primeira história longa, e de repente me deparei com dezenas de histórias que se passavam no universo de Harry Potter, Percy Jackson, Crepúsculo e muitos outros — às vezes até mesmo crossovers entre eles.
Se histórias extras que se passavam em universos que já conhecíamos não fossem boas o suficientes, a gente já se deparava em grande escala com uma questão que só um tempinho depois ganharia um nome: Representatividade LGBT+!

Enquanto os livros que eram lançados em formato físico ainda mantinham o modelo de histórias sobre personagens brancos, cis e héteros, foram as fanfics que chegaram com toda a representatividade possível. 

Antes mesmo de Rick Riordan sequer começar a escrever Heróis do Olimpo, já haviam fanfics do Nico Di Angelo se apaixonando por Percy Jackson, ou sobre Hermione ser uma garota trans, e até mesmo o Jacob engravidando do Edward.

Foi exatamente assim que as fanfics começaram a serem chamadas de terras sem lei: tudo era possível. Mais do que em histórias originais, os autores de fanfics podiam sonhar longe e colocar tudo aquilo que queriam. Quando eu me deparei com o termo menpreg eu fiquei um pouco confuso, mas tempos depois entendi que homens trans podem sim engravidar. Foi conhecendo fanfics que a maioria dos leitores da internet teve acesso a personagens gays, lésbicas, bissexuais, trans, relações poliamoristas e muitas outras representatividades.

As fanfics fizeram um grande trabalho de inserção da representatividade LGBT+, mesmo que falassem sobre personagens que originalmente eram héteros e cis, elas abriam o espaço para dizer que aquelas pessoas realmente existem. Pouco tempo depois do “bum” das fanfics na internet, começamos a exigir por personagens representativos em histórias originais, e hoje em dia exigimos esses personagens em livros físicos.

Existe uma enorme gama de leitores que simplesmente se negam a considerar a qualidade das fanfics, mas enquanto a academia não considera nem mesmo os livros atuais como literatura, nós abrimos a boca para dizer que essas histórias são de grande valia, e que assim como a outros fatores, claro, somos gratos a todas essas escritoras e escritores que criaram personagens diversos e incentivaram muitos outros a criarem também.

Muito obrigado fanfiqueires!

*Este é um texto de opinião que reflete apenas o ponto de vista do autor.