RESENHA: Um milhão de finais felizes

RESENHA: Um milhão de finais felizes


Um milhão de finais felizes me causou sensações muito diferentes. Assim como Quinze dias, houve momentos em que chorei e ri ao mesmo tempo. No entanto, creio que, em seu segundo livro, Vitor Martins nos leva a outro nível da complexidade de ser um jovem LGBTQIA+.

Sofri em todas as passagens sobre a família e sobre a relação com Deus e a religião. Sofri porque lembrei de mim mesma em algumas partes, sim, mas, principalmente, porque imaginei a quantidade de outros jovens que passam por situações iguais ou piores. Jovens que não têm o apoio da família, que vivem em conflito entre aquilo que sempre acreditaram e o que são. Ah, o medo de ir para o inferno! Ah, ter que ouvir alguém que você ama dizer que está preocupado com sua alma só porque você ama alguém do mesmo sexo.



“Eu preciso entender que é possível ser gay e também ser feliz.” 

SINOPSE: Jonas não sabe muito bem o que fazer da vida. Entre suas leituras e ideias para livros anotadas em um caderninho de bolso, ele precisa dar conta de seus turnos no Rocket Café e ainda lidar com o conservadorismo de seus pais. Sua mãe alimenta a esperança de que ele volte a frequentar a igreja, e seu pai não faz muito por ele além de trazer problemas.

Mas é quando conhece Arthur, um belo garoto de barba ruiva, que Jonas passa a questionar por quanto tempo conseguirá viver sob as expectativas de seus pais, fingindo ser uma pessoa diferente de quem é de verdade. Buscando conforto em seus amigos (e na sua história sobre dois piratas bonitões que se parecem muito com ele e Arthur), Jonas entenderá o verdadeiro significado de família e amizade, e descobrirá o poder de uma boa história.

Título: Um milhão de finais felizes
Autor: Vitor Martins
Editora: Globo Alt
Número de páginas: 289
Gênero: Ficção jovem
ISBN:  978-85-250-6537-7


“Mesmo passando por tanta coisa ruim na vida, você ainda guarda um milhão de finais felizes aí dentro.” 

Mas nem só de tristeza e reflexão vive Um milhão de finais felizes. Por mais que o livro tenha uma aura triste em vários momentos, grande parte da narrativa fala sobre o jovem Jonas e seu sonho de ser escritor. O rapaz desperta para a necessidade de escrever algo (e terminar) assim que atende a um moço de barba ruiva no Café onde trabalha. A partir desse encontro, Jonas começa a imaginar e a escrever a história de dois piratas gays, um deles baseado no rapaz desconhecido.

O livro tem uma narrativa leve e fofa, característica do gênero YA que Vitor domina tão bem. Mas, para além do romance jovem, Um milhão de finais felizes encara a difícil missão de falar sobre as famílias que temos e aquelas que escolhemos. O autor escreve sobre amizade de forma única, apresentando as diversas fases e facetas das relações de Jonas com os amigos.



“Nem sempre a família que nasce com a gente vai nos entender. Nem sempre eles vão ficar do nosso lado para sempre. Mas isso nunca vai te impedir de escolher uma família nova.” 

Vejo muitas pessoas ressaltando a representatividade LGBTQIA+ nas obras do Vitor, mas, assim como Quinze dias foca a narrativa muito mais na gordofobia e na auto-estima do personagem principal, Um milhão de finais felizes vem falar sobre família, sonhos e futuro. O romance acaba sendo apenas o quentinho no coração tão necessário em histórias como esta.

Porém, no final das contas, o que mais aquece em Um milhão de finais felizes é saber que, apesar de tudo, não estamos sozinhos. Há muita gente como nós e por nós no mundo. Há uma família inteira e colorida nos esperando para um abraço quentinho no fim do dia.


“Essa é a minha família. E o melhor é que foram eles que me escolheram.” 

Tem gente que acredita que está na moda ser LGBT. Para essas pessoas, desejo que leiam livros como Um milhão de finais felizes e encarem todos os “privilégios” (ironia aqui) que nós temos.

Encontre o livro aqui.



FOTOS: Thaís Herculano