Quer um romance de tirar o fôlego, com direito à reviravoltas e muita representatividade? Então, Singular, da autora nacional Thati Machado é uma ótima opção para você.
Sinopse: Noah sempre quis ser um garoto. Exatamente desse jeito. Com ponto final depois do substantivo masculino. Bom, ao menos era assim que as outras pessoas viam a situação. Para Noah, ele era um garoto. Novamente: ponto final. Durante toda uma vida Noah se sentiu deslocado, diferente, estranho. Era como se ele fosse um pacote que precisava vir acompanhado de cuidados e explicações. O que ele não sabia - mas estava prestes a descobrir - é que era único. Era singular. Como muitos garotos - com ponto final - Noah também esperava encontrar alguém com quem dividir absolutamente tudo. E enquanto isso não acontecia, ele achou que seria uma excelente ideia curtir o carnaval na cidade maravilhosa. Ele só não esperava que a terra de clima quente e pessoas calorosas pudesse lhe oferecer muito mais.
TÃtulo: Singular
Autor: Thati Machado
Editora: Qualis
Número de páginas: 286
Gênero: Romance LGBTQ
ISBN: 978-85-68839-84-3
Já começo falando que dei um mole danado quando peguei Singular para ler, não sabia que se tratava de um spin-off de outro livro da Thati, o Poder extra G. Não acho que estrague completamente a experiência, mas recomendo que você leia o outro primeiro, pois tem algumas revelações da história.
Esse é um livro fluido, dá para ler rápido, pois a escrita da autora nos leva a sempre querer passar para o próximo capÃtulo. E olha, logo nas primeiras páginas o clima já esquenta muito, se é que vocês me entendem.
Noah, o personagem principal dessa história, é um homem trans, que apesar de sempre ter se entendido como homem, precisa enfrentar as outras pessoas que nem sempre estão prontas para lidar com a situação, o que acaba o magoando bastante.
“Eu já havia passado por aquilo algumas vezes, mas isso não atenuava nada, continuava sendo igualmente doloroso.”
Apesar da falta de compreensão de outras pessoas, a base familiar do Noah é daquelas que a gente olha e aprende como deve ser. A mãe e o irmão são pessoas essenciais, do tipo que brigam e lutam para que pessoas como o Noah tenham em casa todo o apoio que precisam para ser quem são. Vai, planeta!
O pai do Noah é um capÃtulo à parte, pois ali as definições de lixo foram atualizadas! Ele representa o tipo de pessoa que muitos da comunidade LGBTQIA+ enfrentam todos os dias. Preconceituoso demais e péssimo pai, o Noah nem ousa chamá-lo assim.
Na história, vamos acompanhar principalmente o ponto de vista do Noah, mas vamos ter acesso também ao de outros personagens. Isso é muito legal para que tenhamos outros detalhes da narrativa.
Temos um inÃcio bem movimentado com altas doses de pegação. Conhecermos personagens essenciais, como os amigos no Noah, familiares, além de pessoas do grupo de apoio que ele frequenta.
Este é um parágrafo para exaltar a Candela, uma mulher do grupo de apoio que é ajudada pelo Noah em um momento terrÃvel que ela enfrenta na famÃlia. Uma fala dessa personagem é o meu trecho preferido da história. Candela, quer o mundo? Eu te dou.
“Não sou uma mulher inferior ou menos merecedora dessa proteção [...]. A mulher que assim o nasce, e assim se sente, se depara com inúmeras dificuldades, é verdade. Mas imagine quantas são as dificuldades de uma mulher que, além de lutar por reconhecimento e igualdade, precisa lutar para ser reconhecida como mulher. Essa é a minha luta.”
Depois dessa treta com a Candela, que é bem no começo do livro, vamos finalmente para a esperada viagem. Noah, o irmão NÃcolas, a cunhada Nina e Marcela, amiga da Nina, vão passar o Carnaval no Rio de Janeiro. Nosso protagonista viajou com a intenção de curtir a solteirice e pegar geral, mas logo no inÃcio da viagem uma ruivinha vai chegar para começar a atrapalhar seus planos.
Um ponto bem interessante são as cenas de sexo narradas no livro. Elas são muito importantes para que o leitor entenda as inseguranças, mas principalmente as descobertas do Noah.
“Minha vida romântica e sexual sempre passou por altos e baixos. Como um garoto trans, precisei lidar com muitas outras coisas além da expectativa do primeiro beijo e a pressão da primeira vez. Revelar minha condição era sempre delicado, pois eu nunca tinha como saber como seria a reação da outra parte envolvida.”
Se você nunca pesquisou sobre as pessoas trans, fica aà uma ótima dica de leitura para começar a entender melhor a vivência delas. A Thati escreve com propriedade e muita responsabilidade sobre o tema, sem estereótipos. Dá para ver o cuidado que ela teve em cada detalhe na hora de falar do Noah e de cada experiência dele. Além disso, temos também representatividade gorda, muita sororidade e altas doses de fofura durante toda a história.
Esse romance poderia não diferenciar de outros que já li e nem gostei tanto, mas estamos falando de representatividade, dos clichês que meninos trans e meninas gordas nunca tiveram para chamar de seus. Estamos falando de amor sim, mas estamos falando também de quebra de padrões, de levar a literatura para outro patamar, onde todas as pessoas podem sonhar em se ver representadas. Obrigada por isso, Thati.
Fotos: ThaÃs Herculano