RESENHA: Fome

RESENHA: Fome


Fome - Uma autobiografia do (meu) corpo é um livro intenso e forte, que mostra o quão profunda pode ser uma dor e o quanto ela nos define por toda a vida.

Em sua autobiografia, Roxane Gay confessa suas partes mais frágeis, pensamentos mais feios, desejos mais profundos e suas incontáveis frustrações. Em Fome, Roxane fala sobre sua vida marcada, muito cedo, pela violência sexual e pelo preconceito.




❝E também há medo, porque ninguém quer ser infectado pela obesidade, em grande parte porque as pessoas sabem como veem e tratam as pessoas gordas, o que pensam sobre elas, e não querem ficar fadadas a tal destino


SINOPSE: Nesta autobiografia escrita com sinceridade impressionante, a autora best-seller Roxane Gay fala sobre como, após sofrer um abuso sexual aos doze anos, passou a utilizar seu próprio corpo como um esconderijo contra os seus piores medos. Ao comer compulsivamente para afastar os olhares alheios, por anos Roxane guardou sua história apenas para si. Até conceber este livro.


Esta não é uma narrativa bem-sucedida de perda de peso. E este também não é um livro que Roxane gostaria de escrever. Entretanto, é uma história que precisa ser contada, e ela o faz com seu estilo contundente e impetuoso, ainda que dotado de um humor mordaz, características que a tornaram uma das vozes mais marcantes de sua geração. "Fome" é um relato ousado, doloroso e arrebatador.


Título: Fome - Uma autobiografia do (meu) corpo
Autor: Roxane Gay
Editora: Globo Livros
Número de páginas: 270
Gênero: Autobiografia
ISBN: 978-85-250-6469-1





❝Nós temos ideias muito limitadas sobre feminilidade quando você é alta e larga — e bem, acho que as tatuagens não ajudam —, frequentemente se apresenta como uma "não mulher". A raça também tem seu papel nisso. Mulheres negras raramente tem permissão para reconhecer sua feminilidade.


Ainda muito jovem, Roxane transformou seu corpo em uma fortaleza para evitar que garotos, como aqueles que a tinham ferido no passado, pudessem feri-la novamente. Foi na comida que ela encontrou o abrigo e o esconderijo perfeitos para seus medos, mas acabou transformando seu corpo em uma prisão.


Por ser uma autobiografia, a linha cronológica do livro acaba não sendo linear. Ou seja, Roxane não começa, necessariamente, falando sobre sua infância, depois sua adolescência e, por fim, na vida adulta. Isso até acontece, pois existe uma sequência de acontecimentos, mas a autora repete algumas histórias em partes diferentes, focando em aspectos distintos, o que achei muito interessante.


❝É uma mentira poderosa equacionar a magreza com a autoestima. Claramente, essa mentira é muito convincente, porque a indústria da perda de peso prospera. As mulheres continuam tentando se curvar ao desejo da sociedade. As mulheres continuam famintas.


O livro é dividido em seis partes, e a que mais mexeu comigo foi quando a autora fala sobre os programas de emagrecimento na TV, os padrões irreais de magreza e a maneira como o corpo gordo é visto pela sociedade. Acho que é impossível não se sentir triste quando a autora relata momentos de humilhação e desconforto, é impossível não se revoltar com a maneira desumana que as pessoas são tratadas apenas por ocupar algum espaço no mundo.



❝Isso é o que ensinam à maioria das garotas — que devemos ser magras e pequenas. Não devemos ocupar espaço. Não devemos ser vistas ou ouvidas, e, se somos vistas, devemos ser uma visão agradável aos homens, aceitáveis na sociedade.

Fome é um livro intenso, onde a autora fala, de maneira crua e honesta, sobre seus fantasmas, seu passado de violência sexual, o preconceito que sofre por estar e viver em seu corpo e as dores de uma autoimagem distorcida pelos traumas e pela visão do outro. Uma leitura obrigatória.

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FOTOS: Thaís Herculano