Intenso, bem escrito, com todos os elementos colocados na medida, sem exageros, Inferno no Ártico é aquele tipo de livro que dá vontade de virar as páginas até chegar ao final e, quando chega, dá vontade de sair lendo tudo o que a autora já escreveu. Se isso não é ser bom, porran, eu não sei o que é ser bom!
“Feridas têm personalidade própria; é preciso reconhecê-las, explorá-las e deixá-las expostas ao ar para que a cura venha”.
Inferno no Ártico não é um thriller comum. Não se engane pensando que vai encontrar um plot twist que te deixe sem chão ou um super mistério a se solucionar. Cláudia Lemes se apoia na construção de seus personagens, nas relações humanas e nas conversas para criar uma obra forte e bem estruturada.
SINOPSE: Assassinatos bizarros abalam a cidade de Barrow, Alasca, durante o período de dois meses de noite polar. A detetive brasileira Barbara Castelo desconfia que seu primeiro caso de homicídio tem ligações com ocultismo, e precisa superar suas diferenças com o parceiro, Bruce Darnell, além de sua fobia do escuro, para encontrar o serial killer antes que ele consiga completar sua missão macabra.
Título: Inferno no Ártico
Autora: Cláudia Lemes
Editora: Independente
Número de páginas: 308
Gênero: Thriller
ISBN: 978-85-923508-5-7
Qual seria o pior lugar para uma detetive com fobia do escuro investigar um serial killer ocultista? Se você respondeu: uma cidade cuja noite polar dura sessenta e sete dias, bem, acertou. Inclusive, fico me perguntando se foi essa a pergunta que a autora se fez antes de começar a escrever o livro.
A história já começa mostrando a que veio logo no prólogo. De cara percebemos o peso do livro e que Cláudia nunca brinca em serviço. Em seguida, conhecemos o serial killer principal da história e suas intenções (apesar de não ser revelado quem, de fato, é a pessoa). Quando os eventos de Inferno no Ártico começam, somos apresentados à detetive brasileira Bárbara Castelo, uma mulher assombrada pela revelação de um segredo do passado e aprendendo a lidar com seu trauma de escuro.
"― O que ele respondeu? Quando você perguntou como se sabe qual é a coisa certa?
― Sempre a mais difícil."
Inferno no Ártico me prendeu logo de cara. A crueldade humana impressiona nas primeiras páginas e segue impressionando no decorrer do livro, mas, por incrível que pareça, não foi uma história que me causou nenhum sentimento extremo de repulsa, nojo ou indignação. Talvez eu esteja começando a me acostumar com a narrativa da Cláudia e a esperar coisas terríveis dos seres humanos.
Não fiquei tão tensa quanto gostaria em relação ao serial killer em si. A motivação dele e suas características como um missionário não me chamaram tanto a atenção, não me prenderam. Se o livro fosse apenas sobre isso eu não teria gostado tanto. É justamente nesse ponto que Cláudia brilha: o livro não é apenas sobre um serial killer, mas sim sobre a complexidade da personagem principal. O mistério em relação ao passado dela, a história de seus pais e o envolvimento de seu padrinho assassino na relação dos dois.
Confesso que detestei todos os personagens masculinos. Simplesmente achei, desde o princípio, todos os homens desprezíveis. Talvez, o único que eu salve (por aparecer pouco, arrisco dizer) seja o pai da Bárbara.
"Sentiu o gosto amargo na boca, aquele de quando nos damos conta que não somos os mocinhos que sempre acreditávamos ser."
Não tem como não comparar Inferno no Ártico com o outro livro da autora que já li, Eu vejo Kate (veja a resenha no canal). Apesar de eu ter gostado mais de Kate, por motivos de Nathan e de ter achado o desenvolvimento do serial killer muito melhor, Inferno no Ártico é nitidamente mais bem feito, com personagens mais bem desenvolvidos, principalmente a protagonista, que me cativou bem mais que a Kate.
Em outras palavras, Inferno no Ártico é melhor, mas eu gosto mais de Eu vejo Kate, o que me deixa ainda mais ansiosa para ler outros livros da autora, em especial a sequência de Kate, que em breve estará solta no mundão.
Fotos: Thaís Herculano

